Chegou o último mês do ano! Esse maravilhoso caos que vem como um pacote de promoções de supermercado, recheado de oportunidades e, claro, sofrimento disfarçado de celebração. Não importa se você está com o cartão de crédito no limite ou se as metas pessoais do ano são tão inalcançáveis quanto aquele seu amigo que só vai aos encontros porque a tia dele faz brigadeiro. O importante é: dezembro chegou. E, com ele, a famosa Síndrome do Final do Ano — mais conhecida como “ho-ho-how?”, ou o momento em que você percebe que não deu conta de nada, mas vai tentar sorrir mesmo assim.
No Brasil, é como uma maratona sem treinador. Você não se preparou, não treinou, e, quando olha para o relógio, já está no meio da corrida. A única coisa que a gente sabe é que, no final, o sofrimento é mais do que esperado. São 365 dias acumulados em um único mês de promessas, frustrações e a pressão de se apresentar como uma pessoa muito feliz para todos os amigos no Facebook. Mas quem somos nós para duvidar da magia do Natal? Onde mais, se não na nossa rede social, podemos fingir que estamos bem enquanto o caos pessoal toma forma nas gavetas de sentimentos não resolvidos?
E o que você fez em Dezembro mesmo? É nessas horas que aquele famoso PowerPoint emocional chega junto. Você abre e ele pergunta: “Deseja restaurar a última apresentação?” E você, já exausto do ano, responde, mesmo sem querer, com um dolorido “sim”. O resultado? Lá está você, assistindo a retrospectiva da própria vida, onde tudo parece estar um pouco errado. Como um vídeo de retrospectiva do ano, mas sem direito à edição.
Slide 1: A famosa lista de metas de janeiro, que no meio do caminho virou uma lista de “coisas que nunca fiz”. Slide 2: A comparação dolorosa com as vidas perfeitas dos outros, exibidas nas redes sociais. Porque é claro, todo mundo atingiu as suas metas. Todo mundo viajou, comprou presentes incríveis, fez dieta e participou de festas maravilhosas. Menos você, que sobreviveu à sua própria lista de pendências.
E então, a família. Aquele microcosmo de amor e desespero, pronto para fazer você questionar sua própria sanidade. Ah, as famílias… aquelas maravilhosas representações de bem-aventurança, como nas fotos de Natal, onde todos estão felizes, de branco, com a árvore iluminada e aquele sorriso forçado de quem está se segurando para não jogar o peru na cara de alguém.
Entre os presentes e a comida, entre as fotos e os abraços, o questionamento se aproxima: “O que fiz da minha vida?” E, sem respostas claras, nasce a angústia existencial. E, se você olhou para o ano e não sabe exatamente o que foi feito, o que restou foi uma mistura de culpa e o famoso “ano que vem eu tento de novo”.
Sem contar que temos o simbolismo da virada. Esse segundo mágico entre 23:59 e 00:00 que promete lavar a alma, limpar o karma, tirar aquela gordurinha extra e até pagar a fatura do cartão. Acontece que, como Freud diria, a virada do ano pode até ter algo simbólico, mas a nossa cabeça continua a mesma. A virada é do calendário, não da mente.
Agora, a boa notícia: se você se sente angustiado, cansado e sobrecarregado… parabéns, você não está sozinho. Não, você não está deprimido — você está lúcido. A diferença é que agora você sabe o que não é, ao contrário de tantos que fingem viver uma vida perfeita. E a cura para a síndrome do final de ano? A resposta é simples: ressignificar. Uma palavra bonita que, significa o simples ato de fazer as pazes com a realidade.
Se eu pudesse te dar uma solução: construa seu próprio Natal. Não se prenda à ideia de perfeição ou a impressões compartilhadas nas redes sociais. Coma seu panetone barato, ignore os convites forçados e passe o tempo que precisar vendo séries ou descansando. O final do ano é apenas mais um lembrete de que a vida continua — com ou sem o peru na mesa.
E se a Síndrome do Final do Ano bater forte, sorria. Sorria, porque pior do que essa crise existencial é o que vem logo após a virada: a Síndrome do Começo do Ano. Aquele momento maravilhoso quando, em pleno janeiro, você percebe que, de novo, a fatura chegou.
Te desejo então, Feliz Sobrevivência. E é disso que se trata: sobreviver ao final de mais um ciclo. E, com sorte, o próximo será menos desafiador — ou, pelo menos, mais engraçado.
*Tema sugerido pelo leitor e amigo, Thiago Rizza.

