Seja sincero: você já culpou seu nome por alguma desgraça na vida? Porque, convenhamos, ter que repetir “Eufrásio” para o atendente do café enquanto ele olha desconfiado para o teclado do sistema é quase uma tragédia grega. E aí está a questão: será que nossos nomes influenciam nossos destinos? Ou somos apenas vítimas de um capricho genético que escolheu a grafia errada no cartório?
Comecemos pelo básico. Seu nome é a primeira etiqueta que colocam em você, antes mesmo de você saber o que é um espelho. É como batizar um barco antes de saber se ele vai naufragar ou descobrir o Novo Mundo. E aqui entra a piada cruel: os nomes carregam expectativas. Um “Da Vinci” já nasce pressionado a ser gênio (ou pelo menos pintor ou torturador de tartarugas mutantes). Já um “Clóvis” luta contra o destino de se tornar vendedor de seguros. A ciência diz que somos influenciados pelas expectativas associadas aos nossos nomes. E, se os cientistas dizem, quem sou eu para discordar? (Bom, eu sou o dono da crônica, então discordo quando quiser — falando no meu nome…)
Ah, Marcus Vinicius. Pra você ter uma ideia: Um nome que soa como o protagonista de um épico romano, marchando por coliseus e conquistando territórios, mas que, em 2025, provavelmente está respondendo e-mails com “Conforme conversamos, segue anexo” ou disputando um espaço no estacionamento do condomínio. Esse nome tem peso histórico, quase literário. A primeira coisa que alguém pensa é: “Nobre, poético, de linhagem inquestionável.” É o tipo de nome que vem com expectativas embutidas. Se você se chama Marcus Vinicius, espera-se que você recite Camões na mesa de bar ou, no mínimo, que saiba a diferença entre um soneto e uma redondilha. Mas aí você está lá, lutando para lembrar onde estacionou o carro no shopping. Ah, Marcus Vinicius. Um nome que grita glória e eternidade, mas que, no fim das contas, é mais ouvido em chamadas do tipo “Sua senha foi chamada no guichê 3” do que em poemas épicos.
E claro, a ironia não para por aí. O Marcus Vinicius de 2025 não empunha espada, mas sim um smartphone com 3% de bateria. Ele não atravessa mares revoltos, mas o engarrafamento no trajeto de 90 km às 18h. É quase cruel: o peso do nome diz “grandeza”, mas a vida insiste em colocá-lo na fila do supermercado, debatendo mentalmente se leva ou não o melão em promoção. Marcus Vinicius, um nome épico preso em um cotidiano tragicômico, onde o maior feito do dia é sobreviver ao grupo de WhatsApp da família sem perder a sanidade.
E quanto àqueles casos bizarros que parecem profecias? Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, literalmente se chama “raio”. Coincidência? Talvez. Ou talvez a vida tenha um senso de humor que só Deus e um roteirista bêbado conseguem explicar. O mesmo vale para aptônimos, como Sara Coelho, a veterinária. Nome ou destino? Ninguém sabe. Mas que rende boas risadas, ah, isso rende.
Mas nem tudo é brincadeira. Estudos mostram que nomes exóticos podem causar exclusão, bullying ou até mesmo uma carreira promissora no cinema independente. E aqui vai a minha teoria psicanalítica: o nome, como um rótulo, faz a gente querer provar que somos mais do que isso. Um Quentin Tarantino, por exemplo, teve que virar cineasta porque, convenhamos, abrir uma franquia de pizzarias com esse nome seria esquisito.
E sobre o velho debate “nomes influenciam crimes”? Bom, aí o buraco é mais embaixo. Não é o nome que gera o crime, mas o peso social que ele carrega. A exclusão pode ser o estopim, e a polícia só chega depois que o apelido já virou manchete.
Nome é só a capa do livro. Quem escreve a história é você. Então, se você se chama “Cláudio” e acha isso sem graça, mude sua narrativa. Torne-se memorável. Ou mude o nome para “Zeus”. Isso também funciona, dependendo do quão bem você encara os olhares no Starbucks.
E você, leitor de nome único, já imaginou como seria a sua vida se carregasse um “João Silva” no crachá? Talvez mais discreta, talvez menos marcante. Mas, no final, o que importa não é o nome em si, e sim a história que você escreve com ele. Seja qual for o título, lembre-se: é a sua assinatura no topo da página que dá valor ao enredo.


