Em comunicado, BC fecha porta para cortes mais fortes nos juros, dizem economistas

Banco Central reduziu a taxa Selic em 0,5 ponto nesta quarta-feira, para 12,75%, e anunciou que deve manter o mesmo ritmo de redução nas próximas reuniões

Depois de reduzir a taxa Selic mais uma vez em 0,5 ponto nesta quarta-feira (20), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reforçou, em seu comunicado, que irá manter o mesmo ritmo de redução nas próximas reuniões.

“A mensagem principal dada pelo comunicado é que o comitê quer desestimular a leitura de que pode aumentar o ritmo dos cortes”, disse o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani.

O Copom anunciou a redução da Selic de 13,25% para 12,75% ao ano, em decisão unânime entre os nove integrantes que compõem o comitê.

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“Os membros do comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o comunicado.

O texto ainda destaca cenários de incerteza com relação tanto a um processo de redução da inflação ainda lento, quanto do que pode acontecer com a atividade econômica e global neste e no próximo ano.

Padovani destaca que as expectativas para a inflação em horizonte ainda longo seguem acima da meta, que é de 3,25% para este ano e 3% para os próximos.

Os modelos do BC, usados como base para decidir a Selic, apontaram para uma inflação de 5% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,1% em 2025, informou o comunicado desta quarta.

“É uma expectativa muito acima da meta em 2023, acima da meta em 2024 e ainda acima da meta em 2025”, disse o economista. “Então, enquanto essas expectativas ainda não estiverem ancoradas, eles querem ser mais cautelosos e não aumentar o ritmo”, acrescentou.

Para o economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, o tom do comunicado do BC foi mais “duro”, ou hawkish, no jargão do mercado.

“O BC manteve o parágrafo onde ele sinaliza a preferência por continuar no ritmo de corte de 50 p.p. nas próximas reuniões. Ele usa o plural. Existia uma discussão no mercado de que ele poderia sinalizar isso só para próxima, e deixar daqui a duas reuniões em aberto, mas ele preferiu manter essa passagem no plural”, disse.

Caruso pontua que a piora no crescimento da China e a discussão sobre os juros nos Estados Unidos podem resultar em uma desvalorização do câmbio.

“Ele [BC] reconhece essa piora que a gente está tendo no crescimento chinês e na discussão sobre juro longo nos Estados Unidos. As duas coisas podem se traduzir, por exemplo, num câmbio mais desvalorizado que pode ser inflacionário para o Brasil”, avaliou.

Rafaela Vitória e André Valério, economista-chefe e coordenador de macro research do Inter, respectivamente, chamam a atenção para a manutenção da política monetária restritiva pelo BC por um período ainda prolongado.

Os especialistas destacam que a magnitude do corte total nesse ciclo de queda ainda não está certa, e vai depender da evolução da inflação, “principalmente das medidas de serviços e de núcleo, mais sensíveis à política monetária, e também das expectativas de inflação, mais sensíveis às mudanças na política fiscal”.

“O cenário externo, que aponta para taxas de juros maiores ao longo de 2024, também pode limitar o tamanho do corte total na taxa Selic nesse ciclo”, informam.

Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama, ressalta que parte do mercado especula que o Copom possa acelerar as quedas a partir da reunião de dezembro.

“Não nos parece, contudo, que o BC vá caminhar por essa trilha, uma vez que existem algumas incertezas no horizonte, tais como o preço do barril do petróleo nos patamares atuais, que pressionam a Petrobras a reajustar combustíveis, bem como as previsões de um El Nino mais intenso até março de 2024, o que pode impactar nos preços dos alimentos”, avalia.

Espírito Santo afirmou que o movimento do Copom é aderente com a manutenção de taxa básica de juros americana, anunciada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) também nesta quarta-feira.

“Isso indica que a estratégia de ambos está bem definida: o primeiro flexibilizando prudentemente a política monetária ainda contracionista, enquanto o segundo a mantém em terreno fortemente restritivo (e assim ficará por longo tempo)”, disse.

“A manutenção dessa redução, dessa velocidade, ela poderia até ser aumentada ao longo deste ano, mas parece que o BC vai continuar num nível de conservadorismo e vai manter meio ponto percentual nas duas próximas reuniões, reduzindo no máximo mais este um ponto percentual neste ano”, avaliou Fábio Tadeu Araújo, economista e sócio-proprietário da Brain Inteligência Estratégica.

Fonte: CNN

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