Com o passar dos anos, não é apenas a pele que perde firmeza ou os cabelos que ficam brancos. A voz, muitas vezes negligenciada, também envelhece, e de forma curiosa: fica mais grave nas mulheres e mais aguda nos homens.
De acordo com a otorrinolaringologista Dra. Luciana Costa, especialista em Saúde da Voz do Hospital Paulista, esse fenômeno está diretamente ligado às mudanças hormonais e às transformações estruturais pelas quais a laringe passa com o tempo. “A partir dos 40 ou 50 anos, as pregas vocais sofrem alterações na espessura, elasticidade e musculatura. Esse processo, conhecido como presbifonia, é parte do envelhecimento natural da voz”, explica a médica.
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Segundo ela, nas mulheres, a queda abrupta do estrogênio após a menopausa provoca a perda de colágeno e água nos tecidos da laringe. Isso deixa as pregas vocais mais espessas e pesadas, fazendo com que vibrem mais lentamente e gerem sons mais graves. “Já nos homens, a produção de testosterona começa a cair progressivamente a partir da quinta década. Essa redução provoca afinamento do músculo vocal, tornando a voz mais aguda com o passar do tempo”, afirma a Dra. Luciana.
Além disso, a calcificação das cartilagens laríngeas contribui para a modificação da vibração das pregas vocais.
Outro fator curioso apontado pela especialista é o que ela chama de “cruzamento hormonal”. Com o envelhecimento, há um aumento relativo dos hormônios masculinos nas mulheres e vice-versa. “As mulheres passam a ter proporcionalmente mais androgênios circulantes, enquanto os homens apresentam elevação relativa dos estrogênios. Essa inversão hormonal também influencia o tom da voz”, destaca.
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Mudanças graduais, mas com marcos perceptíveis
As alterações vocais tendem a ocorrer de forma gradual, mas momentos de transição hormonal, como a menopausa e a andropausa, podem torná-las mais evidentes. “Os meses que cercam a menopausa funcionam como um divisor de águas vocal para muitas mulheres. A queda hormonal neste período pode causar alterações perceptíveis em um curto intervalo, como rouquidão e perda de extensão vocal”, observa a médica.
Nos homens, o processo costuma ser mais sutil, mas ainda assim é notável, especialmente após os 60 anos, quando o declínio da testosterona se acentua.
Estilo de vida também pesa na balança vocal
Além dos hormônios e do envelhecimento, hábitos de vida têm influência direta na saúde vocal. O cigarro, por exemplo, é um dos principais vilões. “As substâncias tóxicas e o calor do cigarro irritam a mucosa, provocam edema crônico e aumentam o risco de lesões e câncer de laringe. Nas mulheres, isso pode acentuar ainda mais o tom grave da voz”, alerta a otorrinolaringologista.
Beber pouca água também é prejudicial. A hidratação inadequada resseca as pregas vocais e favorece o atrito entre elas, comprometendo sua flexibilidade. O consumo de álcool, por sua vez, tem efeito desidratante e inflamatório. “Falar demais ou por muitas horas sem pausas, como é comum entre professores e teleatendentes, pode gerar microtraumas nas pregas vocais e acelerar o processo de envelhecimento da voz”, acrescenta.
Como forma de prevenção, a médica recomenda medidas simples, como hidratação adequada (em média 30 ml de água por quilo de peso corporal por dia), pausas vocais regulares, cuidados com a postura e exercícios específicos de respiração e projeção vocal.
Há tratamento para a “voz envelhecida”?
Para aqueles que se incomodam com as mudanças vocais, seja por questões estéticas ou profissionais, existem recursos eficazes para atenuar ou até recuperar parte da qualidade vocal. “A primeira etapa costuma ser a terapia vocal, feita com fonoaudiólogos, que ajuda a fortalecer os músculos da laringe e melhorar a projeção da voz. Muitas vezes, é possível recuperar até 30 Hz de frequência vocal”, explica a Dra. Luciana.
Casos de flacidez excessiva ou falha no fechamento das pregas vocais (gap glótico) podem ser tratados com a injeção de ácido hialurônico ou, em situações mais avançadas, com cirurgias de reposicionamento da laringe, conhecidas como tireoplastias. Além disso, mulheres na menopausa com queixas importantes podem discutir com seus médicos a possibilidade de reposição hormonal, sempre avaliando os riscos e benefícios.
“As mudanças na voz com a idade são naturais, mas o estilo de vida, os cuidados preventivos e os tratamentos disponíveis podem fazer toda a diferença. Com atenção à saúde vocal, é possível envelhecer com uma voz clara, firme e funcional”, conclui a especialista.