Câmara de SP cria CPI para investigar R$ 83,6 milhões desviados do Jockey e ligação com Marconi Perillo

Comissão apurará suspeitas de desvio em incentivos fiscais e Lei Rouanet que beneficiaram rede de empresas próximas ao ex-governador e atual conselheiro do clube, que nega as acusações

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta quarta-feira (29) a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o desvio de R$ 83,6 milhões em verbas públicas do Jockey Club de São Paulo. O montante, oriundo de incentivos fiscais e repasses da Lei Rouanet, teria sido desviado para empresas e pessoas ligadas ao ex-governador e presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, que é sócio e conselheiro da entidade desde 2019. Perillo nega veementemente as acusações, classificando-as como “leviandade absurda.”

Comissão apurará repasses milionários

A CPI foi proposta pelo vereador Gilberto Nascimento (PL) e vai apurar a gestão de débitos tributários, a alienação de potencial construtivo e possíveis omissões do poder público. A composição do colegiado foi ampliada de sete para nove membros, mas ainda não há data definida para a instalação. Para viabilizar o processo, o Legislativo paulistano precisou alterar o Regimento Interno, permitindo a abertura de até quatro CPIs simultâneas nas sessões de 2025 e 2026.

O ex-governador Marconi Perillo, que se mudou para São Paulo em 2019 após perder a eleição para o Senado por Goiás, aparece no centro das suspeitas. Desde que chegou à capital, Perillo tornou-se sócio do Jockey Club e, em 2022, passou a integrar o conselho da instituição. A investigação aponta que o clube teria recebido R$ 22,4 milhões via Lei Rouanet e outros R$ 61,2 milhões por meio de mecanismos municipais de compensação fiscal — recursos que acabaram beneficiando uma rede de empresas com vínculos diretos com o ex-governador.

Empresa ligada a Perillo no foco

Uma dessas empresas é a produtora cultural Elysium, que assumiu a representação do Jockey em 2020 e foi transformada em Organização Social de Cultura (OSC) em 2014, por decreto assinado pelo próprio Perillo, quando ele ainda governava Goiás. A Elysium, segundo a apuração, contratou fornecedores ligados à família de Débora Perillo, prima do tucano, e direcionou pagamentos milionários a construtoras sem sede física ou registro de atividades compatíveis com os valores recebidos.

A construtora Vidal, por exemplo, recebeu R$ 11,2 milhões, mas não foi localizada nos endereços informados — um deles, um apartamento residencial de luxo no Itaim Bibi. Já a Ambiência Arquitetura e Restauro, listada como beneficiária de R$ 1 milhão, negou ter realizado obras desse valor. Outra empresa, a Biapó, confirmou participação, mas não informou quanto cobrou. Documentos revelam ainda que o Jockey apresentou notas fiscais duplicadas para justificar os mesmos gastos tanto na prestação de contas da Lei Rouanet quanto na da Prefeitura, o que levou o município a rejeitar as contas do clube.

Gastos irregulares e contas reprovadas

Entre as despesas contestadas há compras de medicamentos, dedetizações em Goiânia e jantares em restaurantes de alto padrão, como Osaka e Aze Sushi, pagos com dinheiro público. A Elysium justificou os gastos como “custos administrativos”, mas o Ministério da Cultura já havia proibido o reembolso de bebidas alcoólicas e despesas não diretamente relacionadas à execução do projeto.

Defesa do ex-governador

Perillo negou qualquer envolvimento, classificando a reportagem que o relaciona ao caso como “leviandade absurda”. Ele afirmou conhecer apenas de vista a empresária Débora Perillo e disse que as coincidências de origem e sobrenome não configuram relação pessoal. O ex-governador ainda acusou a imprensa de promover ataques políticos e garantiu que todas as contas da Elysium e do Jockey estão “rigorosamente legais”.

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