Levantamento Genial/Quaest, divulgado nesta quarta-feira, revela que enquanto igrejas e polícias mantêm alta credibilidade, Poderes da República enfrentam desgaste recorde, com confiança moldada pelo voto em Lula ou Bolsonaro
A pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (10), revela uma queda drástica e generalizada na confiança do brasileiro em suas instituições. O levantamento aponta que pilares da democracia, como o Congresso Nacional e os partidos políticos, sofrem o maior desgaste, enquanto a polarização ideológica se tornou o principal filtro para definir em quem a população deposita sua credibilidade.
Erosão generalizada da confiança
O fenômeno vai além de uma fotografia estática; ele representa uma tendência de deterioração. Nos últimos quatro anos, de 2022 a 2025, praticamente todas as instituições viram a confiança do brasileiro diminuir. Utilizando um saldo que subtrai o percentual de quem confia do percentual de quem desconfia, a pesquisa mostra que o sentimento negativo avançou de forma expressiva. As Polícias Militares e as Forças Armadas viram o saldo de desconfiança crescer 10 pontos percentuais. O mesmo movimento ocorreu com o Congresso Nacional. Até mesmo instituições essenciais ao debate democrático, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e a imprensa, registraram aumento na desconfiança, com 7 e 6 pontos, respectivamente.
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Essa queda generalizada acompanha a trajetória recente do país, marcada por crises políticas agudas, polarização intensa e uma guerra de narrativas que parece não ter fim.
Um país dividido
A pesquisa Genial/Quaest deixa claro que não existe uma “confiança nacional” homogênea. A análise dos dados por espectro político revela que a confiança se tornou um espelho da ideologia. Entre os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, a percepção sobre as Forças Armadas sofreu uma reviravolta, com a desconfiança crescendo acentuadamente entre 2022 e 2024, um possível reflexo da frustração com a ausência de uma intervenção militar. O mesmo grupo alterou drasticamente sua visão sobre o STF, que passou a ser o principal alvo de críticas a partir de 2024.
No campo oposto, entre os eleitores do presidente Lula, a desconfiança se direcionou para as igrejas evangélicas, cuja credibilidade despencou, sobretudo após 2024. Em contrapartida, a imprensa profissional consolidou-se como um pilar para este grupo: 67% dos lulistas afirmam confiar no trabalho jornalístico, enquanto a mesma instituição é vista com suspeita por quase 60% dos bolsonaristas.
Congresso Nacional
Em meio a um cenário de visões opostas, o Congresso Nacional alcançou a rara unanimidade de ser uma fonte de desconfiança para todos. Lulistas, bolsonaristas e até mesmo aqueles que se abstiveram no último pleito presidencial aumentaram sua percepção negativa sobre o Legislativo, consolidando-o como o denominador comum do desgaste político brasileiro.
Confiar se tornou um ato político
Ao final, a pesquisa desenha um país onde a confiança deixou de ser um indicador de credibilidade funcional para se transformar em um reflexo da identidade política. Para o eleitorado mais à direita, os pilares de confiança são as igrejas evangélicas, as redes sociais e a Polícia Militar. Para a esquerda, a confiança se ancora na imprensa, no STF e na Presidência da República. O resultado é preocupante: as instituições, que deveriam servir como terreno comum para o diálogo e a construção do país, tornaram-se trincheiras na batalha política, aprofundando ainda mais as divisões de uma sociedade já conflagrada.
Metodologia da Pesquisa
A pesquisa Genial/Quaest, encomendada pela Genial Investimentos, entrevistou presencialmente 12.150 pessoas em todo o Brasil entre os dias 13 e 17 de agosto de 2025. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%.