Lira diz que Câmara vai votar nesta terça marco temporal para demonstrar que trata tema com ‘responsabilidade’

Presidente da Casa disse que Congresso não tem ‘nada contra povos originários’, mas disse que é preciso tratar assunto ‘com coragem’. Proposta fixa marco temporal em 5 de outubro de 1988 e flexibiliza uso exclusivo de terras pelas comunidades.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), confirmou que a Casa votará nesta terça-feira (30) a proposta que estabelece um marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

Em declaração a jornalistas, Lira afirmou que o Congresso precisa “demonstrar ao Supremo [Tribunal Federal (STF)] que está tratando a matéria com responsabilidade e em cima dos marcos temporais que foram acertados na Raposa Serra do Sol”. O STF também analisa o tema (veja mais abaixo).

“Não temos nada contra povos originários. Nem o Congresso tem, nem pode ser acusado disso. Agora, estamos falando de 0,2% da população brasileira em cima de 14% da área do país já. Só temos 20% da área agricultável para agricultura e pecuária, e 66% de floresta nativa. Precisamos tratar desse assunto com coragem em algum momento”, afirmou.

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A proposta em discussão na Câmara cria um “marco temporal” para as terras consideradas “tradicionalmente ocupadas por indígenas”, exigindo a presença física dos índios em 5 de outubro de 1988.

Os deputados aprovaram um requerimento de urgência para o projeto na última semana. Isso permite a votação da proposta diretamente no plenário, sem passar pelas comissões temáticas da Câmara.

De acordo com o texto, a interrupção da posse indígena ocorrida antes deste marco, independentemente da causa, inviabiliza o reconhecimento da área como tradicionalmente ocupada.

A exceção é para caso de conflito de posse no período. O texto ainda proíbe a ampliação de terras indígenas já demarcadas.

O projeto também:

  • flexibiliza o uso exclusivo de terras pelas comunidades e permite à União retomar áreas reservadas em caso de alterações de traços culturais da comunidade;
  • permite contrato de cooperação entre índios e não índios para atividades econômicas;
  • possibilita contato com povos isolados “para intermediar ação estatal de utilidade pública”.

O texto ainda abre caminho para a mineração em terras indígenas.

Segundo o parecer do relator, deputado Arthur Maia (União-BA), o usufruto dos índios não abrange, por exemplo, o aproveitamento de recursos hídricos e potenciais energéticos, a garimpagem, a lavra de riquezas minerais e “áreas cuja ocupação atenda a relevante interesse público da União”.

Para Arthur Lira, a proposta é importante também para “fazer com que os povos [indígenas] possam ter direito a explorar as suas terras”. “Terceirizando, arrendando”, exemplificou.

“Essa discussão precisa ser trazida, mas com serenidade, calma. Sem defesas muito eloquentes de parte a parte, com serenidade que essa Casa sempre tocou”, disse.

A discussão sobre o texto voltou ao Congresso depois que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, pautou uma ação que trata do tema para o dia 7 de junho.

Para se antecipar a uma decisão do STF, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), prometeu à bancada ruralista colocar em plenário a votação do projeto, para que os parlamentares se pronunciem sobre o assunto.

O julgamento no Supremo começou em 2021. Até o momento, dois ministros votaram: relator do caso, Luiz Edson Fachin se manifestou contra a aplicação do marco temporal. O ministro Nunes Marques votou a favor.

A análise do tema, contudo, foi interrompida em 15 de setembro de 2021 em razão do pedido de vista – mais tempo para analisar o caso — apresentado pelo ministro Alexandre de Moraes.

O coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Cléber Karipuna, pediu que o STF mantenha o julgamento do marco temporal mesmo com a votação do tema no Congresso.

Ele disse que há uma suposta negociação para adiar o julgamento na Corte com o objetivo de os atender anseios da bancada ruralista.

“A gente acha estranho as negociatas, diálogos entre poderes sobre retirar de pauta o julgamento do marco temporal pautado no STF para 7 de junho”, disse.

“Não concordamos com a retirada de pauta do julgamento do marco temporal, essa não é a solução para a votação do projeto aqui nesta casa”, completou Karipuna.

Fonte: G1

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