Coluna Aberta | “SOBRE SER MULHER E ATENDER MULHERES”, por Suzane Ursulino

Por Suzane Ursulino

Saúde Mental Feminina

A Pandemia tirou debaixo do tapete várias problematizações em diversos setores mexendo com a saúde mental de todos nós.

O que o futuro nos reserva? Colocou-nos cara a cara com tudo aquilo que nos identificamos e projetamos no outro. Uma grande pausa para que o ser individual reflita sobre as operações do nosso coletivo. Muitos destes fatores são prejudiciais à saúde mental da mulher.

Na construção do novo mundo humanizar mais do que nunca se torna como fonte de remediação nesse percurso de reconstrução do caminho da individuação.

Quando ser feminino se constitui ele vem cheio de castrações e punições. Se constituir mulher perpassa por um viés político, social, religioso e cultural. A punição na expressividade ela vem desde pequena, o silenciar para agradar ao outro.

Quando nasce uma mulher, nasce uma culpa. Para tudo que ela queira fazer, já existe um jeito certo de fazer, vestir, calçar, pensar.

Toda aquela que não tiver a idealização em um casamento cercado de filhos, é condenada. Toda aquela que não contem os dispositivos estéticos padronizados corre o risco de não ser escolhida, e não ser escolhida acarreta a ela o rotulo de fracasso. É necessário amar um homem para legitimar seu nome perante a sociedade.

E para quem não deseja o mesmo?

Vai ficar para titia?

A mulher se torna coadjuvante da sua própria história, a espera de um outro que não consegue tratar suas próprias feridas. Sofre violência domestica verbal ou física. Ela duvida de si mesma, sempre questionando a sua fala, o seu comportamento e a sua aparência física.

No processo de (des)construção feminina, somos ensinadas a amar um homem, e a se preparar para o casamento. As brincadeiras são preparações para este momento, e tudo diferente disto é questionado, se tornar mulher muitas vezes é um processo doloroso, dependente e perfeccionista.

Hoje vejo na clinica mulheres perguntando se elas podem ser felizes fora de um casamento, pois idealizam viajar, estudar, entre outros sonhos. E aos homens são ensinados a amar muitas coisas. Talvez daí esteja a fonte do desapego.

Para uma mulher um dos seus maiores medos é está sozinha, é viver sem alguém ao seu lado, mesmo que não esteja feliz, considera continuar em um relacionamento falido por sentir-se segura.

A menina enquanto criança em um momento de descobrimento corta o seu próprio cabelo em sinal de suas transformações interiores, neste momento, conheço diversas histórias onde nós como mães impedem essa descoberta, a criança é punida por tal feito. Até o seu cabelo ele não precisa seguir um padrão, e quantas de nós não cortamos nossos cabelos por não termos a aprovação de alguém?

Na sequencia a menstruação, um rito de passagem natural do corpo que foi banalizado, que é o mesmo que receber uma visita indesejada torcendo para que logo vá embora, se homens sagrassem todos os meses, será que esse momento seria escondido e indesejado?

É necessário problematizar, é necessário pensar a respeito dos nossos processos naturais, e se conectar com o quem se é. E isso tem muito a ver com saúde mental.

Existe um bloqueio em cada mulher que decide falar ou que decidi escrever um projeto, uma ideia, uma invenção, o campo de aceitação primeiramente dela é questionado, se realmente ela se sente capaz de tal realização. Esta ferida está presente no nosso inconsciente coletivo, quando a mulher não tem a sua criatividade minada, ela se depara com muitas possibilidades e caminhos a se seguir.

Somos as maiores consumidoras de produtos e procedimentos estéticos, modificar para aceitar, quando iniciamos em nós a aceitação, quando escavamos em nós a menina sonhadora, a menina que verdadeiramente somos revisitamos a liberdade de ser.

Agarre com força o futuro que você quer e não solte até chegar lá.

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